
“Quando abro o rádio, jorram anúncios; quando abro a torneira, jorra água. Se amanhã a torneira jorrasse anúncios, a minha reação seria surpresa.” Não importa o tipo de água que saia da torneira, se está limpa ou suja, o que não pode fugir é do conceito de que uma torneira jorre água. “Quando algo inesperado ocorre, fazemos de conta que era esperado. É graças a este mecanismo que nada nos surpreende.” Não somos mais tão ingênuos a ponto de acreditando que milagres existem e podem solucionar tudo. Flusser deixa transparecer que somos mal acostumados, evitamos enxergar novas possibilidades, criamos protótipos fixos e esquecemos que com o passar do tempo as coisas mudam. A evolução tecnológica que tanto acreditamos que saiu de um pensamento lógico para fato real é um exemplo desta fé idealizada, afinal buscamos algo que obrigatoriamente visa atingir seu ápice e resolva definitivamente os problemas da vida contemporânea.
Para tudo que nos rodeia criamos mecanismos intermediários, que de certa forma, impulsionarão no desenvolvimento. O grande impasse é que ao conquistarmos o ideal proposto, começamos a mentalizar um novo que será concebido por meio de objetos, formando um ciclo sem fim. Dentro deste conceito os objetos adquirem grande importância para o homem. Flusser esboça esta idéia de forma clara, em seu texto Animação Cultural, quando cita “... é como se nós, os objetos, não fossemos precisamente a síntese entre a ação humana sobre o mundo e a ação do mundo sobre os homens. A pretensa justificativa visa esconder ideologicamente o fato de sermos nós, os objetos, a superação dialética tanto do mundo inanimado quanto da humanidade”.
A discussão dos textos de Flusser gira em torno da interação do HOMEM com OBJETO que pode ser transformar em INSTRUMENTO ou MÁQUINA, depende do ambiente e do período em que se encontra. A relação com arquitetura está na interação com o meio, na possibilidade que arquiteto e urbanista tem de projetar e gerir mecanismos que façam com que a cidade não seja um espaço estático e acompanhe gradativamente a evolução de seu entorno, fazendo uma conciliação sadia do antigo com novo e ainda seguindo o ritmo da vida de sua população.
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